O que é BPA e como mantê-lo longe dos seus alimentos
O BPA sempre foi um aditivo frequentemente utilizado no processo de fabricação de plásticos. Hoje ele é motivo de grande preocupação.
![Alimentos embalaos em recipientes plásticos.](https://static-2frt.mo.cloudinary.net/caemcasa/effdb9d56cff7e3f5be3.jpeg)
BPA é o nome comercial da substância bisphenol-A (bisfenol-A em português). O BPA é um aditivo químico utilizado pelas indústrias no processo de fabricação de policarbonatos e resinas desde os anos 60. O BPA é utilizado para conferir mais resistência a produtos plásticos, como: garrafas e recipientes, produtos enlatados (no revestimento interno das latas), tubulações, CDs e DVDs, produtos de higiene, para além de muitos outros.
Nos anos 90, começaram a surgir as primeiras controvérsias sobre o uso dessa substância em embalagens e recipientes de alimentos, devido ao elevado risco de contaminação. Em março de 1997, um estudo do pesquisador Fred vom Saal, da universidade de Missouri-Columbia, nos Estados Unidos, aponta para uma correlação entre a exposição ao BPA e problemas da próstata. Ao longo dos 11 anos seguintes, mais de 100 estudos científicos viriam a detetar outros riscos relacionados ao BPA, elevando ainda mais o nível de alerta.
Quais os riscos relacionados ao BPA
<BULLET> Alterações hormonais: alguns estudos relataram que o BPA pode mimetizar o efeito de uma hormona no corpo, causando alterações no desenvolvimento de fetos, bebés e crianças.
<BULLET> Problemas neurológicos e comportamentais: o National Toxicoly Program da FDA americana já expressou preocupação sobre os possíveis feitos do BPA no cérebro e em alterações comportamentais de bebés e crianças.
<BULLET> Hipogonadismo: um estudo, publicado em 2015, sugeriu que o BPA é capaz de interferir no processo de produção hormonal testicular em adultos do sexo masculino.
<BULLET> Cancros: alguns estudos em animais demonstraram uma possível correlação entre a exposição ao BPA e ao aumento do risco de diversos tipos de cancro.
<BULLET> Obesidade: um estudo publicado em 2012, demonstrou uma quantidade maior de BPA na urina de crianças com obesidade.
•Risco elevado para as crianças: alguns estudos verificaram que os efeitos negativos do BPA são mais acentuados em bebés e crianças. Como os seus corpos ainda estão em desenvolvimento, têm mais dificuldade em eliminar substâncias tóxicas.
O BPA ainda é utilizado pela indústria?
Sim. O BPA ainda é amplamente utilizado na indústria química em geral. Entretanto, desde 2011 ficou estabelecido que na fabricação de qualquer produto plástico que entre em contacto com os alimentos, o seu limite não pode exceder 0.05 mg/kg.
Em junho de 2011, a regulação europeia nº 10/2011 determinou a proibição do BPA na fabricação de produtos infantis (crianças até 3 anos), como biberões e tetinas.
Todos os recipientes plásticos tem BPA?
Não. Diversos produtos e recipientes de alimentos anunciados no mercado são BPA-free, pois não contém BPA no seu processo de fabricação.
Os recipientes plásticos BPA-free são 100% seguros?
Não necessariamente. Veja os nomes de algumas substâncias que são utilizadas como alternativas ao BPA: BPS, BPF, BPAF, BPZ, BPP, BHPF, etc. Notou alguma semelhança? Todos começam com as letras “BP” pois possuem o mesmo radical químico: o bisfenol. Apesar de muitos estudos terem sido feitos com o BPA, poucos estudos investigaram essas novas substâncias que passaram a ser utilizadas como alternativas.
Um dos estudos que levantou suspeita sobre os produtos BPA-free foi conduzido em 2018 pela pesquisadora Patricia Hunt, da universidade de Washington, nos Estados Unidos. O estudo utilizava ratos para investigar o efeito do BPA em seu processo reprodutivo. Para efeitos de comparação, os ratos estavam divididos em dois grupos: um dos grupos recebia BPA em sua alimentação e o outro grupo, chamado de “grupo de controle” recebia apenas uma alimentação normal, sem BPA. Para isolar o efeito do BPA, ambos os grupos eram mantidos em caixas do tipo BPA-free. A surpresa no resultado foi o fato dos ratos do grupo de controle também apresentarem problemas genéticos, provavelmente causados pelas caixas consideradas BPA-free em que eram mantidos.
Quando questionada sobre os produtos BPA-free pela revista científica Current Biology (vol 22, nº 20), Patricia Hunt respondeu (tradução livre): “no final das contas isso foi uma ótima ferramenta de marketing. A indústria descobriu que pode alterar minimamente a molécula e tecnicamente ela não é mais BPA – e você ainda paga mais por isso, sem saber que talvez não seja uma alternativa mais segura”.
Todos os tipos de plástico utilizam BPA (ou bisfenol) em sua fabricação?
![Ilustração com os 7 tipos de plásticos e suas denominações.](https://static-2frt.mo.cloudinary.net/caemcasa/e6a0dee53363828e49be.jpeg)
Não. Alguns tipos de plástico não utilizam BPA em sua fabricação. Vamos detalhar a seguir cada um dos tipos e seus riscos. Os tipos 3 (PVC) e 7 (outros) podem conter BPA em sua fabricação. Isso não significa dizer que todos os outros tipos de plástico são seguros.
Tipo 1 (PET)
Polietileno tereftalato (PET). Muito utilizados em garrafas de água e bebidas em geral. Esse plástico é um dos mais seguros, desde que seja mantido longe do calor. Não utilizam BPA ou qualquer bisfenol em sua fabricação.
Tipo 2 (PEAD)
São feitos polietileno de alta densidade (PEAD ou HDPE). Muito utilizados em galões de leite e suco, detergente e latas de lixo. São mais resistentes que o tipo 1 (PET). Normalmente tem cores opacas (não são transparentes) e são relativamente seguros com baixo risco de contaminação.
Tipo 3 (PVC)
O cloreto de polivinilo (PVC) é utilizado para fazer filmes plásticos para embalar alimentos, garrafas de óleo de cozinha, cortinas de banho, colchões infláveis e tubulações. Podem conter BPA e certamente contém ftalatos que também são considerados tóxicos em sua composição.
Tipo 4 (PEBD)
O polietileno de baixa densidade (PEBD ou LDPE) é utilizado para fazer sacolas plásticas, algumas embalagens de alimentos, garrafas do tipo “squeeze” e sacos de pão. São relativamente seguros do ponto de vista de sua toxicidade. O principal problema desses plásticos é ambiental. Não são recicláveis e acumulam-se aos montes nos aterros de lixo.
Tipo 5 (PP)
O polipropileno (PP) é frequente utilizado para fazer embalagens de iogurte, vasos de ketchup, acessórios de cozinha e alguns dizem que são seguros para irem ao micro-ondas. Isso é dito pois, esse tipo de plástico é bastante resistente ao calor, mas ainda assim é sempre preferível aquecer os alimentos em recipientes de vidro.
Tipo 6 (PS)
O poliestireno (PS) é muito utilizado na fabricação de esferovite e de algumas embalagens de alimentos prontos. Libera substâncias extremamente tóxicas ao ser aquecido. Para além disso, também é muito difícil de ser reciclado.
Tipo 7 (outros)
O tipo 7 basicamente pode ser qualquer outro tipo de plástico que não sejam dos tipos 1 a 6. O policarbonato está nessa categoria e pode conter BPA em sua composição. Pela variedade de materiais, é muito difícil reciclar uma embalagem que esteja nessa categoria. Por esses motivos, devem ser evitados.
Como evitar o BPA
A principal forma de contacto com o BPA é através da ingestão dos alimentos que foram contaminados por suas embalagens e recipientes. Deste modo, temos que observar em quais embalagens estão a ser vendidos os alimentos que compramos no mercado e também onde guardamos os alimentos que preparamos em casa. Além disso, algumas dicas podem ajudar a evitar que o BPA e outras substâncias químicas presentes na embalagem passem para o alimento.
•Prefira embalagens e recipientes e embalagens de vidro: essa é a dica mais importante. O vidro não utiliza BPA em seu processo de fabricação e para além disso, é uma alternativa muito mais ecológica.
•Nunca aqueça recipientes plásticos no micro-ondas: ao aquecer o alimento, o recipiente também se aquece e pode liberar maiores quantidades de BPA.
•Não coloque alimentos muito quentes diretamente em recipientes plásticos: apesar de não ter ido ao micro-ondas, a comida quente pode provocar o mesmo efeito mencionado acima.
•Deite fora qualquer produto plástico que esteja danificado. Os plásticos são porosos e ao ficaram velhos e danificados podem liberar maior quantidade de substâncias tóxicas. Para além disso, podem soltar pedaços de microplástico, que podem contaminar os alimentos.
Agora que leu o nosso artigo, esperamos que tenha aprendido mais sobre os riscos do BPA e dos plásticos em geral quando entram em contacto com o nosso alimento. Lembre-se: prefira sempre os recipientes de vidro. São melhores para a sua saúde e para o meio ambiente.